Como batista “de berço”, como alguns se referem hoje às pessoas que nasceram em lares cujos pais já eram batistas, participei de todas as organizações tradicionais de uma igreja, inclusive coros e conjuntos musicais. Acho que consigo ainda cantar muitos hinos dos Coros Sacros, do talentoso Artur Lakschevitz, e de outros autores que fizeram nossa hinódia.
Ainda
no início da adolescência, já cantava em coros de adultos porque “tinha voz
boa”, e nossa igreja era pequena e todos precisavam participar. Dentre as
lembranças mais antigas, uma dessas músicas, de autoria de Mina Roch, sempre me
vem à memória: "Pelo vale escuro seguirei Jesus/Mas por ti
seguro vendo a tua luz/O meu passo incerto Tu dirigirás/Ao sentir-te perto,
nunca perco a paz".
Ao longo da vida atravessei muitos vales e tenho
acompanhado os vales escuros de muitas pessoas amadas. Quando passamos pelos
vales das doenças, das perdas irreparáveis, das sombras infernais, das traições
inimagináveis, das esperanças frustradas e tantos outros, não conseguimos
compreender o porquê, o que realmente está acontecendo e nem as consequências
para o futuro. Estar em vales escuros nos traz sentimentos de medo, de fragilidade,
de impotência e de insegurança.
Quando todas as esperanças foram embora, dois
discípulos, muito provavelmente Cleopas e Maria, sua esposa, estavam à caminho
de casa em Emaús. Certamente havia uma tristeza profunda em seus corações para
a qual talvez faltassem palavras, como acontece conosco, porque atravessavam um
vale escuro com a morte de Jesus. Como seriam suas vidas a partir dali? O que
fazer com os projetos, os sonhos e as esperanças? Como continuar a viver depois
de tudo?
E então Jesus veio para estar com eles no vale. Nem
sempre reconhecemos quando isso acontece; não conseguimos, por causa da dor,
percebê-lo ali. Mas ele estava lá,
andando junto, dialogando, esclarecendo, entrando na casa e sentando ao redor
da mesa. Bendita presença! Os discípulos ainda teriam que caminhar muito e
passarem por muitos outros vales, mas a consolação da presença de Jesus,
daquele “se importar”, estaria sempre com eles.
E o hino termina assim: “Breve a noite desce, noite
de Emaús,/E meu ser carece de te ver, Jesus!/Companheiro amigo que ao meu lado
vens,/Fica ó Deus comigo, infinito bem”.
(Zenilda Reggiani Cintra, publicado em OJB 140713)
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