sábado, 23 de maio de 2009

LUGO E A PATERNIDADE

Damiana, Benigna e Viviana. O que elas têm em comum? Afirmam terem filhos do atual presidente do Paraguai e bispo licenciado, Fernando Lugo.
O jornal O Estado de São Paulo (OESP), de 24 de abril de 2009, afirma que seis outras mulheres ainda vão reivindicar a paternidade dele sobre suas crianças. Uma das mães teria começado seu relacionamento com o então bispo quando tinha 16 anos e ele 47.

Essa história revela muito a respeito da cultura da América Latina, na qual todos estamos inseridos. Lugo se comportou como muitos homens: teve parceiras variadas e paralelamente e não assumiu nada, nem paternidade, nem fidelidade nem responsabilidade financeira. Agora, diz que não pagará exame de DNA e se as supostas mães quiserem, terão elas mesmas que conseguir os recursos para isso.
O não reconhecimento da paternidade das crianças é algo imperdoável, humanamente falando, para quem, como o bispo, simboliza valores cristãos. O registro civil é o primeiro documento de qualquer cidadão. É ele que potencializa o desenvolvimento da personalidade humana pela identificação das origens da identidade genética e promove a inclusão familiar e social do indivíduo. Por isso, toda pessoa tem direito a ter um registro civil completo com o nome do pai e da mãe. Estudos apontam que, no Brasil, mais de 700 mil crianças não têm a paternidade declarada na certidão de nascimento.
E as mulheres, por que ficaram caladas esse tempo todo? Estariam apaixonadas, envergonhadas, ameaçadas, desfrutando de algum tipo de vantagem ou passivas, talvez impregnadas dos valores culturais? O fato de serem mães já era algo suficiente para se sentirem completas, realizadas, sem considerarem a necessidade de seus filhos terem a paternidade reconhecida? Uma delas afirmou que, durante certo tempo, ganhava 10 dólares por semana de Lugo, que cessaram quando o relacionamento terminou. A miséria era tanta que justificava as relações prostituídas?
Algo que me impressiona no nascimento de Jesus é o fato de que Deus preocupou-se de que ele tivesse paternidade aqui na terra e por isso mandou o anjo falar com José. Também providenciou que Maria, como mãe, tivesse uma parceria humana na responsabilidade com o seu filho. Jesus foi reconhecido como filho de Maria e de José, o carpinteiro, aquele cuja paternidade não sobreviveria a um exame de DNA, mas com um coração cheio de misericórdia e um profundo temor a Deus, certamente o principal sentimento que falta a Lugo, o ex-bispo presidente.
E as mulheres? Como pastoras e pastores, como igreja, precisamos dizer a todas que, acima da cultura, da miséria, do assédio, do abuso, das feridas e decepções há um Deus capaz de dar dignidade e provisão e atender ao clamor de justiça. Da mesma forma que ele fez com Agar, Tamar e tantas outras no decorrer da história, que continua a ser escrita com o seu olhar de valor sobre as mulheres.

(Publicado em O Jornal Batista, 24 de maio de 2009)
PS: O que também salta aos olhos em Lugo, e que não abordei no artigo porque não era o propósito, é o prevalecimento de uma posição de poder para a sedução e conquista e, no caso dele, acrescida de ascendência espiritual. Uma das mulheres que o acusa de ser pai de seu filho foi à igreja em busca de ajuda e acabou recebendo 10 dólares por semana, certamente para ter o relacionamento sexual com ele. Outro envolvimento, com uma menina de 16 anos, aconteceu quando ele viajava em vistas de sua função eclesiástica pelo interior do país.
Infelizmente, essa é a realidade. Lugo representa os relacionamentos irresponsáveis, com conseqüências previsíveis, mulheres rejeitadas e prostituidas, crianças sem a presença necessária do pai, em todos os sentidos. Não estou com isso tirando a responsabilidade das mulheres, mas estou ressaltando o prevalecimento de posições de poder para assédio e sedução irresponsável.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

MEU FILHO PRECISA DE MIM?


Ida Venturini de Souza
Ministra de Educação Cristã

Helena corria para chegar a tempo no trabalho, torcendo para que o engarrafamento não fosse muito demorado, que o ônibus não estivesse tão lotado e que o trem não estivesse parado. Na sua mente tentava organizar o dia, espremendo os muitos compromissos entre a lista de pedidos da família: passar no banco, pagar a conta de telefone, comprar o remédio do Pedro, levar os salgadinhos na festa da professora da Renata, levar aquela calça de seu marido para ajustar a bainha, marcar aquela consulta médica já por tanto tempo adiada.
Depois de um dia de trabalho intenso chega em casa e as tarefas continuam. Enquanto tenta adiantar o jantar confere os deveres de casa dos filhos ouvindo o relatório interminável da filha explicando como os meninos são terríveis e por isso ela não conseguiu prestar atenção na aula! Coloca a roupa para lavar sonhando com um banho quente, demorado e relaxante! Arruma a cozinha, põe o frango para descongelar e antes de dormir faz a última pergunta: filho, você precisa de mim? Então, boa noite, Deus te abençoe!
Na manhã seguinte acordou com a resposta numa folha de caderno em cima da mesa:
Mamãe, você me perguntou se precisava de você?
Minha resposta é: Preciso sempre de você...
Preciso de seu amor, de sua presença, de seu carinho e de seu calor;
Preciso de sua palavra, de seu conselho, de sua visão abrangente e de sua aprovação;
Preciso de seu sorriso, de sua alegria, de seu ânimo e de seu entusiasmo;
Preciso do seu jeito de me fazer sentir importante;
Preciso de seu abraço, de seus beijinhos apertados e de seu aconchego.
Preciso de você de tantas maneiras e jeitos que a vida nem faz sentido sem você.
Sim mamãe, preciso de você a cada momento!
Teu filho

Somos mães modernas, descoladas, despachadas, superdinâmicas, atarefadas, trabalhadoras, batalhadoras, superprotetoras, preocupadas e ansiosas. Sim, conquistamos nosso espaço na sociedade e a mídia nos lembra a todo o momento que temos direito de nos realizarmos. Merecemos isto, com certeza, mas o mundo esquece-se de mencionar que nossa realização também passa por vermos nossos filhos realizados, seguros e felizes. Raramente refletimos a respeito do que realmente nossos filhos precisam. Às vezes as respostas são bem simples, mas mesmo em sua simplicidade podem nos emocionar. Recordo-me do desabafo entre lágrimas de uma profissional muito bem sucedida que tentava ser a melhor mãe do mundo, mas esquecia das coisas essenciais, que não têm preço.
Nossos filhos não precisam de mais brinquedos nem do celular de última geração, mas precisam se sentir seguros e terem a certeza que serão aceitos mesmo se não forem os mais famosos da escola. Eles não precisam tanto de roupas novas e adereços caros, mas necessitam da certeza de que são lindos por dentro e por fora, são únicos e com uma personalidade especial. Não precisam tanto de elogios em publico, mas de conversas francas e particulares, sem acusações, inquisições ou desconfianças. Precisam saber que alguém está do lado deles, incondicionalmente. Precisam ouvir suas orações citando os seus nomes, sabendo que está sempre intercedendo por eles.
Enfim, não precisam que você seja importante, rica ou famosa, mas gostariam que, às vezes, você fosse apenas mãe!

quarta-feira, 6 de maio de 2009

MÃES CRISTÃS PARA O MUNDO DE HOJE


Zenilda Reggiani Cintra

Nunca foi fácil ser mãe. Mãe é aquela mulher que tem o seu corpo e emoções completamente mudados na gestação. 
É a que prepara com carinho cada objeto, cada roupinha, cada espaço que acolherá aquele bebê amado. 
É a que coloca o dedo no narizinho do recém-nascido para constatar se aquele pequenino respira fora do seu corpo, porque o milagre da vida é inexplicável. 
É a que alimenta, por si mesma, aquele serzinho ávido e insaciável. 
É aquela que reestrutura completamente seus sonhos, seu tempo, seus amores por causa daquela pessoa que cresce e ganha a cada dia mais espaço.
Que susto quando ouve-se a voz pequenina ocupando agora o seu lugar na comunicação da família! E o crescimento é irreversível. Começa a ir ao coleginho, como o meu marido dizia quando minhas meninas eram pequenas, e ninguém segura mais. De repente crescem, organizam-se, buscam seus sonhos e seguem seu caminho.
Mãe também é aquela que sonha com o filho que não vem pelo corpo, mas pelo seu coração. É aquela mulher que rompe com predições, com receios de hereditariedade, com exclusividade de sangue e decide criar laços mais fortes, porque construídos pelo amor.
Mas ser mãe cristã é um desafio ainda maior. Além de todas as questões comuns, universais ao coração e a vida de uma mãe, ainda há a grande missão de conduzir seus filhos aos pés do Senhor Jesus. Quantos querem roubar o coração dos nossos filhos! Que batalha é honrar a Deus colocando dia-a-dia a Palavra diante dos olhos, ouvidos e corações em meio às situações cotidianas de alegrias, de tristezas, de perdas, de sonhos, de reflexões diante do turbilhão de informações que chegam até eles.
Mas as lutas têm as suas recompensas. Que emoções lindas ao ouvir a primeira oração, o primeiro cântico, ver a primeira pintura do cestinho de Moisés, ouvir a vozinha confiante entregar o seu coraçãozinho a Jesus. Que alegria observar aquele ser tão amado crescer e buscar a vontade de Deus em todas as áreas da sua vida. Constatar que como mães temos feito nossa parte, mas que, ainda que demore, Deus faz o milagre de aplicar os ensinos, muitas vezes ministrados com lágrimas e oração aflita.
Somos mães cristãs para este tempo, singulares por causa da missão que temos de edificar vidas para fazerem diferença no mundo. Mães abençoadas cujo fruto do trabalho ficará para a eternidade.
(Zenilda Reggiani Cintra, Publicado em O Jornal Batista, 100509)

Veja também: SINTONIA DE MÃEMÃES PARA SEMPRE

domingo, 3 de maio de 2009

MULHER, FAMÍLIA E A PERMANÊNCIA NA IGREJA

O maior anseio das mulheres, no decorrer dos tempos, tem sido o bem-estar de suas famílias . Mesmo hoje, aliada à realização profissional e acima dela, na maioria das vezes, está a luta árdua para se ter lares estruturados e felizes. Para isso, mulheres mudam seus padrões, saem do espaço conhecido e vão em busca de ajuda.
A história da siro-fenícia, em Mateus 15, ilustra bem esse quadro. Uma mulher não pertencente ao povo da aliança, acostumada ao seu contexto cultural e religioso, com um uma filha doente aprisionada por Satanás. Uma família exposta à dor, ao constrangimento e ao desespero. Jesus ultrapassa os limites esperados e vai até onde aquela mulher e sua família estão. O encontro acontece e ela tem a oportunidade de expressar sua fé genuína, seu sofrimento e seu pedido de socorro. Jesus a acolhe, dialoga, contraria os opositores e ordena a cura da filha, mudando o futuro daquela família.
Esse sofrimento feminino, nesse caso com doença, mas que pode ser por rebeldia de filhos, saúde, vícios, infidelidade, violência, finanças e outros, tem gerado uma busca incessante de ajuda por parte das mulheres, provocando mudanças no cenário religioso.
Uma pesquisa mencionada no capítulo Religião e Secularização, do livro Gênero e Religião no Brasil , organizado por Sandra Duarte de Souza, Umesp, revela alguns dados a respeito da mudança religiosa de mulheres. Realizada na cidade de São Bernardo do Campo, SP, entre mulheres metodistas, presbiterianas e batistas, a pesquisa mostrou que, na maioria das vezes, são as mulheres que tomam a iniciativa de mudança de igreja, levando a família, e apontou os motivos. O primeiro deles, mencionado por 59% das mulheres, é a busca de cura para os filhos e consolo no caso da morte destes. Em segundo lugar, com cerca de 45% , é a mudança ocasionada por doença ou morte do cônjuge. Em terceiro lugar, com quase 40% das menções, problemas conjugais como infidelidade, e em quarto lugar, a saúde pessoal. A autora opina que “As representações sociais acerca da mulher enquanto cuidadora se confirmam nesse quadro. Ela é, em última instância, a responsável pelo bem-estar dos filhos e do marido, portanto, os problemas correspondentes a eles são transformados imediatamente em motivos de busca religiosa dessas mulheres, forçando o sagrado a uma necessária adequação às suas demandas”. Uma das conclusões é que a fidelidade à instituição religiosa vai até ao ponto em que as necessidades familiares são atendidas.
Possivelmente, essa pesquisa é uma amostra do que acontece também ao nosso redor. Diante desse quadro, precisamos refletir a respeito de uma pastoral relevante para mulheres. Momentos de sofrimento e conflitos familiares são oportunidades de ministrar o amor de Jesus. À igreja cabe desenvolver ações para chegar até onde as mulheres estão, criando caminhos para ouvir os clamores de cada uma, gerar segurança para o diálogo e apoio, desenvolver a fé e abrir oportunidades para os milagres, que só Jesus pode fazer
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Publicado em O Jornal Batista, em 03 de maio de 2009
http://www.ojornalbatista.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=1172&Itemid=30