quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

HAVERÁ UM CÂNTICO

Junto às torrentes frescas assentados,
cativos, tristes, pobres e humilhados
e sem vislumbre de consolação 
 
Na Babilônia, muitas vezes choramos 
quando, cheios de angústia, 
nos lembramos das glórias fascinantes de Sião
 
Nossas harpas estavam desprezadas, 
nos ramos dos salgueiros penduradas, 
mudas, sem vibração, quietas e sós,
 
Porque os soluços da tristeza infinda
e os dolorosos ais de certo ainda 
enchiam de temor a nossa voz.
 
Aqueles que cativos nos levaram
e as nossas tendas logo derrubaram, 
sem reparar a nossa humilhação, 
 
Para afligir-nos ainda mais, 
pediam que cantássemos e eles ouviriam 
os salmos e as cantigas de Sião.
 
Como, porém, podíamos, um dia, 
mudar nossa tristeza em alegria 
e transformar em riso a nossa dor? 
 
Mas inda assim, exaustos e abatidos,
calamos nossos íntimos gemidos 
e, humildes, bendizemos o Senhor .
(Salmo da Solidão, Jonathas Braga,  1908-1978).. 
 
Integrante do quarteto “fantástico” de poetas batistas, que inclui Mário Barreto França, Gióia Júnior e Myrtes Mathias, e que sempre cantaram em forma de poesia a nossa fé, Jonathas Braga, parafraseando o salmo 137, nos recorda da impossibilidade do povo escolhido de Deus cantar em meio ao cativeiro, quando lembrava suas casas invadidas,familiares mortos e cidades destruídas, e agora habitava em uma terra estranha, sem identidade e espacialidade. Mas não era só a dor que deixava sem a possibilidade do canto, mas também a lembrança de tempos felizes, sem volta e sem a infantil inocência de pensar que um povo escolhido não sofreria. Naquele momento, aquelas pessoas eram sós em sua dor.
Nossa caminhada de fé nos leva, mais cedo ou mais tarde, ao cativeiro, seja ele da dor física de doenças incuráveis, da destruição de relacionamentos importantes, da perda de emprego ou situações ministeriais ou profissionais que não se resolvem, do abalo na família provocado por acontecimentos inesperados, da mudança inevitável de lugar de moradia, da necessidade de deixar uma igreja querida e tantas outras.
Pode ser que as exigências externas sejam uma opressão a mais nesses tempos difíceis por causa  de atividades que não podem ser deixadas de lado ou de pessoas que continuam exigindo que sejamos do jeito que sempre fomos. Temos o desafio de continuar bendizendo ao Senhor, sabedores que a nossa caminhada com ele, em cativeiro ou não, é a nossa grande recompensa. Em momentos assim,  resta-nos cultivar a nossa fé, na esperança que um dia haveremos de cantar, como o povo de Israel  fez em sua volta à cidade de Sião:
“Quando o SENHOR trouxe do cativeiro os que voltaram a Sião, estávamos como os que sonham. Então a nossa boca se encheu de riso e a nossa língua de cântico; então se dizia entre os gentios: Grandes coisas fez o SENHOR a estes. Grandes coisas fez o SENHOR por nós, pelas quais estamos alegres. Traze-nos outra vez, ó SENHOR, do cativeiro, como as correntes das águas no sul. Os que semeiam em lágrimas segarão com alegria. Aquele que leva a preciosa semente, andando e chorando, voltará, sem dúvida, com alegria, trazendo consigo os seus molhos” (Salmo 126). 
Publicado em OJB, 22nov09

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