segunda-feira, 23 de agosto de 2010

OS JOVENS TECNOLÓGICOS

Os jovens de hoje, nascidos nos anos 80 e 90, são aqueles contemporâneos da revolução digital e por isso “têm uma relação com a comunicação diferente da geração anterior. Um jovem hoje consegue ver televisão, trabalhar no computador, conversar no MSN [programa de bate-papo pela internet] e ainda ouvir uma musiquinha". É o que constatou uma pesquisa do Ibmec (Instituto de Tecnologia do Mercado de Capitais), iniciada em 2007, com jovens estudantes (Portal Exame, 130810).

Essa intimidade tecnológica não é novidade para os pais e líderes porque quem já não se valeu da ajuda de um jovem para dicas no computador, uso do celular e outros aparelhos digitais? Quem são aqueles que nas igrejas, estão no som, multimídia, filmagem e outras ferramentas de comunicação? Eles, os jovens. Outras características dessa geração, reveladas pela pesquisa coordenada pela economista Lúcia Oliveira, professora da graduação em Administração do Ibmec, são que “usam mídias sociais com facilidade, são informais nas relações pessoais - menos hierarquizadas - e têm facilidade de trabalhar em grupo, formando redes, em tarefas colaborativas, que não precisam nem ser feitas no mesmo espaço, mas pela internet. Esta geração está habituada a se comunicar, a se integrar e a colaborar virtualmente".

O que isso tem a nos dizer? Muitos púlpitos das igrejas hoje “demonizam” os jovens e a internet. Assim como no passado a televisão, o cinema e outras formas de arte e mídia foram estigmatizadas pelas igrejas, hoje a internet é o alvo principal para responsabilizar a falta de espiritualidade dos jovens. Certo que a internet é uma ferramenta poderosa e invasiva que pode facilitar caminhos para a pornografia, prostituição, vícios e envolvimento com filosofias heréticas, entre outros, mas todos sabemos que a internet também pode ser uma bênção para o ministério cristão dos jovens, que traz benefícios para o Reino e para a igreja local.

Um dos grandes desafios para a geração anterior a essa, os que hoje em sua grande maioria exercem a liderança de ponta nas igrejas, é perceber a forma de trabalhar e o potencial dos jovens. Dificilmente encontraremos, por exemplo, um jovem que queira assumir a liderança de qualquer área, mas se dissermos que ele trabalhará com uma equipe então a disposição muda. Reuniões? Quase tudo é decidido por emails ou pelas redes sociais como o Orkut, twitter e msn. Encontros para planejamento ou capacitação? Só se forem acompanhados de um churrasco ou pizza. Relacionamento com pastores e liderança? Só pelo caminho da amizade e cumplicidade. 

Um dos grandes problemas para o engajamento dessa geração na igreja é a grande resistência de lideranças para o investimento em tecnologia e uso da internet, como emails por exemplo. Fica então difícil conciliar a expectativa dos jovens com aqueles que ainda querem decidir tudo em nível pessoal e não virtual ou para os que ainda desejam o culto na forma tradicional, sem o uso de multimídia e outros recursos que dinamizam as informações e a captação das mensagens que desejamos transmitir.

A igreja é de todos e esta geração tecnológica faz parte dela também. Facilitar os caminhos para o engajamento no Reino de Deus e mentorear os jovens é o grande desafio hoje para termos uma igreja saudável no relacionamento entre os diversos grupos. Uma igreja que sinalize o quanto essa tecnologia pode ser uma ferramenta poderosa para alcançar pessoas com o evangelho de Cristo, valendo-se de uma geração, por que não, preparada por Deus, para ser também resposta para as exigências deste tempo.
(Pra. Zenilda Reggiani Cintra, publicado em OJB, 220810)

sábado, 14 de agosto de 2010

DIA DOS PAIS - NA CASA DO PAI


No sentido horário: Valquiria, Adauto,
Valter, Zenilda e no centro a caçula,
Abigail, meus irmãos amados.
Na casa do meu pai sempre havia um lugar para mim. Quando era criança dividia a cama com minha irmã, mas à medida que eu e meus irmãos, somos cinco ao todo, fomos crescendo, meu pai foi ampliando gradativamente a casa. Foi assim que as meninas passaram a ter o seu quarto e os meninos o deles. E eu a minha própria cama. Cada um tinha o seu lugar, mesmo em uma casa que sempre tinha agregados, e esse era motivo de orgulho e segurança para nós.


Morávamos no Estado de São Paulo e na época em que fui estudar no Rio de Janeiro minhas irmãs queriam tirar a minha cama para ganharem espaço no quarto. Eu podia até entendê-las. No entanto, meu pai não permitiu argumentando que enquanto não me casasse a minha casa seria aquela e eu teria o meu lugar. Passaram-se onze anos até que isso acontecesse e durante todo esse tempo, mesmo mudando duas vezes de casa, meu pai manteve a minha cama e, por conseguinte, o meu lugar na casa.

Quando Jesus afirma em sua Palavra que “na casa do meu Pai há muitas moradas, vou preparar-vos lugar”, posso entender perfeitamente que no céu haverá um lugar preparado para mim. E a razão está no amor, o que havia no coração do meu pai e aquele que há, multiplicadamente, no coração do meu Pai celeste. Mais do que um espaço físico na terra, que não sabemos como será no céu, tinha um lugar de filha, o mesmo que tenho junto a Deus.

Outro fator interessante no meu relacionamento com o meu pai é que ele nunca restringiu minha ação, em qualquer área, por ser mulher. Desde pequena atuava na igreja, assim que tive formação comecei a pregar, a liderar ministérios, e isso era sempre motivo de alegria e orgulho para ele. Todos o consideravam um batista de raízes e conservador e, mesmo assim, ele não via nenhum motivo para restringir minha ação no Reino de Deus por ser mulher.

Penso que isso se devia ao fato de que quando se converteu, na década de 1940, na cidade de Quatá, em São Paulo, pastoreava a igreja da cidade o Pr. André Peticov, que anos mais tarde foi secretário executivo da Convenção Batista do Estado de São Paulo. Sua esposa, Gláucia Curvacho Peticov, era uma mulher atuante, capaz, que ensinou o meu pai a servir a Jesus. Autora de várias peças teatrais, poesias e textos para cultos comemorativos especiais, trabalhou muitos anos nas igrejas e marcou a vida de muitas pessoas, inclusive a do meu pai. Portanto, ele aprendeu desde cedo no seu crescimento cristão, a parceria saudável de homens e mulheres trabalhando juntos para edificação da igreja de Jesus Cristo.

Esse espaço de aceitação e amor, de valorização, foi muito importante para o meu desenvolvimento e maturidade e me fizeram a pessoa que sou hoje. Tínhamos longos debates sobre questões teológicas e eclesiásticas, sentados à mesa e tomando um delicioso café preparado por minha mãe, sempre ativa também, e jamais, em momento algum, fui menosprezada ou desconsiderada por ser mulher.

Tenho profundas saudades de todos os momentos que vivi na casa do meu pai e meu consolo é pensar que um dia estaremos juntos, novamente, na casa do nosso Pai celestial.


(Publicado em OJB 080810)