sexta-feira, 20 de julho de 2012

D. MARGARIDA E A MUDANÇA FINAL

Muitos vão escrever sobre D. Margarida Lemos Gonçalves nestes dias, em razão da sua partida para a eternidade em 13 de junho de 2012. Mas não posso deixar de registrar, também, minha homenagem a essa mulher singular, que marcou a minha vida e a de milhares de pessoas, quer por conhecê-la pessoalmente ou por meio do registro de sua história na mídia denominacional. Lamentavelmente, pelo menos que tenha conhecimento, não há nenhum documentário a seu respeito ou de qualquer outra personalidade batista porque, de maneira geral, achamos que investir em documentação ou preservação histórica é jogar dinheiro fora, na verdade refletindo uma cultura geral.

Foi justamente a preservação histórica que foi o assunto da nossa última conversa, em Foz do Iguaçu, PR, em janeiro de 2012, por ocasião da assembleia convencional. Ela me chamava de Reggiani, com seu carinho de sempre, desde que a conheci na década de 1980 quando trabalhávamos na JMN, ela no campo e eu na sede. Ela queria falar a respeito do Colégio Batista, em Tocantínia, TO, agora administrado pelo governo do Tocantins. Não houve tempo hábil, já que ela ficou de me escrever, mas estava atarefada com o Colégio e em seguida adoeceu.

Lembrei-me dia desses que, em certa ocasião, ela me disse que ter que lidar com mudanças era a questão mais difícil de enfrentar à medida que o tempo passava. Em mais de 60 anos como missionária, teve ocasião de experimentá-las, muitas, em seu trabalho, sua saúde, sua equipe e todas as alterações na liderança e diretrizes denominacionais e, certamente, umas foram mais fáceis e outras mais difíceis, mas ela venceu-as todas.

Quando penso nos caminhos de uma mulher de Deus, tenho em mente mulheres como D. Margarida, que fazem diferença por causa do comprometimento com o Senhor e a missão por ele confiada. Ela foi alguém que, procurando imitar ao seu Mestre, com toda a sua esmerada formação educacional, fez-se em forma de serva e identificou-se com o povo do sertão do Brasil para mostrar, por meio de suas ações, o amor do Pai. E foi assim até que a última mudança aconteceu: a partida para o lar celestial. Até o fim.
(Pra. Zenilda Reggiani Cintra, publicado em OJB 22julho2012)

Marcha das Mulheres Livres (Marcha das Vadias)

Hoje em dia as mulheres são taxadas de vadias por qualquer motivo. Jovens, meninas, mulheres de todas as idades recebem esse adjetivo até mesmo de outras mulheres, por causa de discussões, diferenças de opiniões, rivalidades, brigas com namorados ou maridos e, pasmem, até mesmo quando a mulher é estuprada, por mais incrível que pareça.

Foi por este último motivo que surgiu a Marcha das Vadias, que acontece no último final de semana de maio, em vários locais no Brasil, como parte de um movimento internacional. O nome veio em razão da palavra de um policial canadense a respeito de segurança em uma universidade na qual estavam acontecendo vários casos de estupro. Como medida de prevenção, orientou as mulheres a não se vestirem como vadias.  

As palavras do policial se tornaram o mote para a marcha, um protesto contra a crença de que as mulheres que são vítimas de estupro pediram isso devido as suas vestimentas. Para impactar a opinião pública, as participantes usam roupas provocantes como blusinhas transparentes, lingeries, saias, salto alto ou apenas sutiã e escrevem frases pelo corpo.

É lógico que a roupa da mulher, ou a falta dela, não justifica o estupro, mas isso não significa que concordamos que uma mulher possa vestir-se de maneira indiscreta, expondo o seu corpo indevidamente. Mas ainda que assim seja, nada justifica o estupro, ou o uso da palavra vadia para ofender uma mulher e, muito menos, como nome para uma Marcha. "Pra mim, o nome ideal seria 'Marcha das Mulheres Livres', mas não teria tanto impacto na mídia", opina Tica Moreno, blogueira militante (www.tpmrevista.com.br).

As mulheres enfatizam um termo pelo qual são estigmatizadas, procurando dar a ele um significado positivo. "Eu acho muito difícil reapropriar o significado de um nome”, afirma Lola Aronovich, professora da Universidade Federal do Ceará, e cronista de cinema, também na revista TPM.

É lamentável que uma mulher cristã não possa participar de um ato de protesto, legítimo e que busca a justiça, por causa da maneira como ele acontece. Sentimo-nos constrangidas pelo nome e pela forma como as mulheres são expostas na marcha. Não é porque uma mulher cristã é escolarizada e militante que se justificam atitudes que depõem contra seu testemunho cristão, por mais que saibamos que devemos empreender todos os esforços para combater o estupro.

Muitos dos sofismas deste tempo trabalham sutilmente contra os nossos valores mais profundos e relativizam a integridade de uma mulher. Nossa maneira de lutar também passa pela ética cristã: “Porque as armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas, anulando nós sofismas e toda altivez que se levante contra o conhecimento de Deus” (II Ct 10.3).
(Pra. Zenilda Reggiani Cintra, publicado em OJB 08julho2012)

Xuxa e o Abuso Sexual

Impossível não repercutir a notícia. Xuxa revelou no Fantástico, no domingo 20 de maio, que sofreu abuso sexual até aos 13 anos de idade, por várias pessoas, em diferentes situações Foi? Não foi? Golpe de marketing? Por que só agora? Essas e tantas outras perguntas pipocaram em seguida, lógico por ser ela uma celebridade midiática, que reflete o anseio de uma grande parcela de brasileiras em termos de beleza, prestígio, dinheiro e poder.
Xuxa é um espelho para gerações. Quando estava grávida, expôs sua barriga em rede nacional  e logo se via pelas ruas mulheres exibindo sua gravidez, raramente com barrigas tão bonitas quanto a dela. Sua “produção independente” e dedicação à filha foram também copiadas por celebridades e anônimas que discursavam sobre a supremacia dos filhos em detrimento do relacionamento conjugal e até fora dele. Enfim, nuances de comportamento que refletem esta geração, mas também que direcionam, muitas vezes, a atitude de parcela da sociedade.

Então essa mulher célebre vem a público falar sobre seu trauma. Pondera que talvez seja por causa do abuso sofrido que não consegue viver relacionamentos duradouros. A pergunta que logo surge é: como foi este abuso? Como uma mulher, especialmente uma criança, pode diagnosticar um abuso? Uma criança brinca com alguém de confiança e de repente sente-se desconfortável pelo tipo de toque. É abuso? Não é? Foi sem querer? Não foi? Muitas vezes não há dúvida: foi abuso mesmo. E aí as perguntas passam a ser: Tive culpa? Não tive? Foi algo que fiz? É por causa do meu jeito? Por que me sinto tão envergonhada? Perguntas como as que Xuxa se fez e que se fazem todas as mulheres que vivem situações semelhantes.

Para a mulher adulta, também é complicado diagnosticar o abuso. Você vai fazer um exame clínico e a roupa que te oferecem, ou não, não corresponde com a necessidade daquele exame, ou ainda você acha que dura mais do que deveria. Um médico vai examinar uma mulher ou fazer um procedimento clínico e demora ou a deixa em posição desconfortável, ou sem roupas, sem que ela veja nisso uma necessidade. É abuso? Não é? Foi necessário? Não foi? Foi alguma coisa que ela fez? Ou disse? E quando há o abuso mesmo, invasivo, como no caso das mulheres atendidas pelo ex-médico Roger Abdelmassih, um dos mais renomados especialistas em reprodução assistida do Brasil, que dopava e abusava das mulheres? Vergonha, incredulidade, pesadelo são alguns dos sentimentos expressados pelas mulheres.

O abuso sexual de crianças e das mulheres de maneira geral é um flagelo social no Brasil e no mundo. Acontece na intimidade das famílias, nos transportes públicos, em ambientes de trabalho e até em igrejas. Fatores culturais, especialmente, são responsáveis pela visão da criança, filha mulher, como propriedade, ou ainda das meninas da família, ou das mulheres de modo geral como objetos que podem ser usados e abusados sem nenhum tipo de respeito.

Como a igreja, e especialmente mulheres em ministério, pastoras, podem ajudar essas mulheres que sofreram abuso? Primeiro, motivar essas mulheres por meio de mensagens, estudos e um ambiente de aceitação a buscarem ajuda. Segundo, criar ferramentas para aconselhamento pastoral, oração, cura, libertação e terapia no objetivo de propiciar uma ajuda interdisciplinar. Mulheres na igreja têm que ter um diferencial no cuidado e encontrar em Jesus, e sob a sua bênção, toda a cura necessária para a sua alma. Em um ambiente cristão muitas vezes tão severo com tudo que diz respeito à feminilidade, é preciso “feminilizar” nossa pastoral e trazer a misericórdia, o amparo e a compreensão com que Deus sempre tratou as mulheres em sua Palavra.
(Pra. Zenilda Reggiani Cintra, publicado em OJB 24junho2012)