sábado, 7 de março de 2015

DIA INTERNACIONAL DA MULHER E A IGREJA

Zenilda Reggiani Cintra

Pra variar, como faz com outras datas, o comércio quer transformar o dia 08 de março no Dia da Mulher e o mês de março no Mês da Mulher no pretexto de se fazer homenagens. A data não tem esse objetivo  e nós, como a igreja do Senhor Jesus, comprometida com a justiça, não podemos nos render à banalização desse dia.

O Dia Internacional da Mulher remete ao ano de 1857, quando operárias têxteis de uma fábrica de Nova Iorque entraram em greve, ocupando a fábrica, para reivindicarem a redução de um horário de mais de 16 horas por dia para 10 horas. Nas suas 16 horas, recebiam menos de um terço do salário dos homens. No entanto,  a greve terminou em tragédia pois os patrões não cederam, trancaram as portas e um incêndio no local provocou a morte de 130 mulheres. Em 1910, numa conferência internacional de mulheres, realizada na Dinamarca, foi decidido, em homenagem àquelas mulheres, comemorar o 8 de Março como "Dia Internacional da Mulher". Desde então, o movimento em favor da defesa da mulher e reivindicação dos seus direitos de cidadania plena tem ganhado espaço em todo o mundo.

O QUE AS IGREJAS DEVEM ENFATIZAR NESTE DIA

Não podemos ficar indiferentes às injustiças das quais a mulher é vítima.  Para se ter uma ideia do que é a realidade da mulher no Brasil, não se precisa ir muito longe. Basta observar o tratamento desrespeitosa que se dá as mulheres muitas vezes do nosso círculo social, as piadas e brincadeiras que tiram o valor da mulher e a atribuição de um valor menor à mulher. Acredito que todo brasileiro tem alguma mulher do seu convívio que sofre  algum tipo de violência, seja verbal ou física, e que se submete a esses maus tratos sem qualquer reação, achando que isso faz parte da sua condição de mulher. Assim foi com suas avós, com suas mães e agora com elas.

Nesta semana, repercutiu a decisão da Câmara dos Deputados que aprovou, no dia 3 de março de 2015, o projeto de lei 8305/14 do Senado Federal, que altera o Código Penal e inclui o feminicídio na lista de homicídios qualificados, além de colocá-lo entre os crimes hediondos. O texto segue para sanção presidencial. Feminicídio é o ato de matar uma mulher pelo simples fato de ela ser do sexo feminino. Vale a pena ler Feminicídio: desafios e recomendações para enfrentar a mais extrema violência contra as mulheres em http://goo.gl/27Cmpu.

Entre vários trechos que poderia destacar desse artigo, chamou-me a atenção os dados sobre violência no Brasil: “Com uma taxa de 4,4 assassinatos em 100 mil mulheres, o Brasil está entre os países com maior índice de homicídios femininos: ocupa a sétima posição em um ranking de 84 nações, segundo dados do Mapa da Violência 2012 (Cebela/Flacso). Mais de 43 mil mulheres foram assassinadas no País na última década, uma realidade vergonhosa que torna a tipificação penal do feminicídio uma demanda explícita e urgente, cuja real aplicação tem no Judiciário elemento indispensável, comenta Flávio Crocce Caetano, secretário de Reforma do Judiciário do Ministério da Justiça”.

Chama ainda a atenção a tolerância com a violência e a responsabilidade das instituições, e podemos apontar a igreja como uma delas: “De acordo com o Mapa da Violência, altas taxas de feminicídio costumam ser acompanhadas de elevados níveis de tolerância à violência contra as mulheres e, em alguns casos, são exatamente o resultado dessa negligência. Os mecanismos pelos quais essa tolerância é exercida podem ser variados, mas um prepondera: a culpabilização da vítima como justificativa dessa forma extrema de violência. Basicamente, o mecanismo de autojustificação de várias instituições, principalmente aquelas que deveriam zelar pela segurança e pela proteção da mulher, coloca a vítima como culpada. A mulher é responsabilizada pela violência que sofre”.

Comemorar esse dia, como igreja,  significa render a Deus louvor pela maneira singular que ele criou a mulher e pela igualdade do ser humano diante dele, seja macho ou fêmea. Significa também reafirmar o valor de cada mulher respaldado na Palavra, o acolhimento que Deus sempre deu às mulheres e o papel importante delas na história da Revelação, da igreja e nos dias de hoje, sem discriminação de dons e funções. É também uma oportunidade de enfatizar a importância da ação e oração de cada mulher, como discípula de Jesus, e também da igreja em favor daquelas mulheres que no Brasil e no mundo sofrem injustiça e violência. Por último, pode significar também um momento de homenagem, por que não, expressando o amor e a apreciação para as mulheres da igreja, certamente guerreiras e valorosas, mulheres de Deus!