sábado, 18 de julho de 2009

OJB E O SENSO DE PERTENCER

Quando era criança, a igreja que frequentava, dirigida por meu pai Oswaldo, evangelista, ficava em um local de destaque no bairro. Naquele tempo, as igrejas da região tinham os chamados alto-falantes, através dos quais o culto era transmitido. A voz do meu pai ecoava longe. Vez ou outra, algum vizinho mais exaltado incitava a que se jogassem pedras contra o templo enquanto o culto era prestado a Deus. Eu, meus irmãos e as demais crianças nos escondíamos debaixo dos bancos, orientados por nossas mães, até que o ataque cessasse. Recordei-me desse fato quando nossa igreja mudou-se para um templo maior, em outro local, e os novos vizinhos não gostaram da nossa presença. Aconteceu que, por alguns dias, jogaram pedras no telhado durante o culto e então pensei que o evangelho continua o mesmo, mas a resistência a ele também. Tanto naquele tempo, como agora, a perseguição cessou quando a comunidade percebeu a importância da ação da igreja no local. Mas não é nisso que quero me deter.
No passado, em meio àquelas experiências marcantes, sempre havia sobre a mesa da sala da casa dos meus pais O Jornal Batista. Logo que fui alfabetizada, minhas primeiras leituras foram OJB e A Pátria para Cristo e, quando jovem e adulta, Deus me deu a alegria de colaborar com ambos. Lembro que quando lia os textos e olhava as fotos de templos e pessoas de outros lugares, tinha aquele senso de que nas nossas lutas não éramos sós, assim como hoje quando leio o Jornal. Sentia-me parte de um grande povo.
Creio que essa tem sido uma das funções de OJB ao longo de toda a sua história, isto é, trazer esse sentido de pertencer, ou pertença, como querem alguns estudiosos, a todo o povo de Deus chamado batista nesse país continental e para muitos que hoje estão em outros países. Acredito que o jornal tem sido um instrumento para firmar a nossa identidade ao longo das décadas e mostrar-nos que somos um em Cristo.
Hoje, com a bênção de Deus, temos uma denominação com uma membresia muito mais escolarizada, crítica, e líderes e formadores de opinião com as mais diferentes especializações, exigências e necessidades. De igrejas antes rurais, passamos para urbanas, em sua grande maioria, e vamos encontrando um caminho para contextualizar a mensagem imutável do evangelho de Cristo e nossa ação para os novos tempos. E OJB, como um jornal representativo de um povo em transformação, com os mais diferentes matizes e estágios, também tem procurado encontrar esse caminho de relevância em meio aos seus próprios desafios, suas lutas e suas limitações, nem sempre superáveis.
O Jornal Batista ainda fica na mesa, agora da sala da minha casa, e os membros da família podem ter acesso a ele, nas gerações que se sucedem. E todos continuamos nos sentindo parte de um grande povo.

(Publicado em OJB, 19jul09)

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