“Deviam ter me avisado que a comandante era mulher.
Eu não voo com mulher no comando”, disse um passageiro a bordo de um avião no
Aeroporto em Belo Horizonte (Portal IG, 22maio2012). A atitude preconceituosa causou
um pequeno tumulto porque os demais passageiros vaiaram o homem e os agentes da
Polícia Federal foram chamados para expulsá-lo da aeronave. Tudo isso provocou
o atraso do voo em cerca de uma hora.
O presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas,
comandante Gelson Fochesato, lamentou a situação dizendo que “nem mesmo nos
Emirados Árabes, um lugar mais restrito em relação às mulheres, aconteceu isso.
A aviação brasileira conta com mulheres há pelo menos 30 anos e é muito
estranho e absurdo ocorrer este tipo de situação. Há mulheres comandantes no
mundo inteiro e nunca tivemos notícia de uma situação como esta” (Portal IG).
Fico imaginando o sentimento daquela comandante
que, após muito estudo e horas de treino e obtendo seu registro pela Agência
Nacional de Aviação, precisou encarar uma pessoa que se recusava a voar por que
provavelmente considerou que não chegaria em segurança com uma mulher no
comando.
Mas há tantas outras situações em que o preconceito
se revela. Há pessoas, inclusive mulheres, que não se consultam com médicas,
por exemplo, ou com dentistas, ou ainda não gostam de ter chefes ou gerentes
mulheres. Há pessoas que não aceitam que suas igrejas tenham mulheres como
vice-presidentes e demais funções da diretoria, ou ainda como diaconisas e pastoras e até como
professoras da EBD.
Certamente, esse passageiro teria as suas
justificativas. Talvez usaria até textos da Palavra de Deus para embasar sua
atitude como fizeram os escravagistas no passado e como fazem os
fundamentalistas hoje para justificarem seus preconceitos contra mulheres. Até
quando a questão de gênero suplantará o chamado de Deus e a competência?
O cântico registrado em Juízes 5 exalta ao Senhor
pela ação vitoriosa de uma mulher, Débora, a única juíza em um ambiente
predominantemente masculino, escolhida por Deus para liderar e julgar o povo em
questões legais e religiosas. Baraque reconheceu a liderança de Débora e foi
corajoso o bastante para se recusar a ir para a batalha contra os opressores
cananeus sem a sua presença. Assim o povo de Israel pode ter paz novamente por
mais 40 anos.
Que o cântico de Débora seja o de todas as mulheres
que servem ao Senhor: “Avante, minh’alma! Seja forte! Assim pereçam todos os
teus inimigos, ó Senhor! Mas os que te amam sejam como o sol quando se levanta
na sua força" (Juízes 5.21,31).
Zenilda Reggiani Cintra - Texto publicado em OJB em11nov12