sexta-feira, 20 de julho de 2012

Xuxa e o Abuso Sexual

Impossível não repercutir a notícia. Xuxa revelou no Fantástico, no domingo 20 de maio, que sofreu abuso sexual até aos 13 anos de idade, por várias pessoas, em diferentes situações Foi? Não foi? Golpe de marketing? Por que só agora? Essas e tantas outras perguntas pipocaram em seguida, lógico por ser ela uma celebridade midiática, que reflete o anseio de uma grande parcela de brasileiras em termos de beleza, prestígio, dinheiro e poder.
Xuxa é um espelho para gerações. Quando estava grávida, expôs sua barriga em rede nacional  e logo se via pelas ruas mulheres exibindo sua gravidez, raramente com barrigas tão bonitas quanto a dela. Sua “produção independente” e dedicação à filha foram também copiadas por celebridades e anônimas que discursavam sobre a supremacia dos filhos em detrimento do relacionamento conjugal e até fora dele. Enfim, nuances de comportamento que refletem esta geração, mas também que direcionam, muitas vezes, a atitude de parcela da sociedade.

Então essa mulher célebre vem a público falar sobre seu trauma. Pondera que talvez seja por causa do abuso sofrido que não consegue viver relacionamentos duradouros. A pergunta que logo surge é: como foi este abuso? Como uma mulher, especialmente uma criança, pode diagnosticar um abuso? Uma criança brinca com alguém de confiança e de repente sente-se desconfortável pelo tipo de toque. É abuso? Não é? Foi sem querer? Não foi? Muitas vezes não há dúvida: foi abuso mesmo. E aí as perguntas passam a ser: Tive culpa? Não tive? Foi algo que fiz? É por causa do meu jeito? Por que me sinto tão envergonhada? Perguntas como as que Xuxa se fez e que se fazem todas as mulheres que vivem situações semelhantes.

Para a mulher adulta, também é complicado diagnosticar o abuso. Você vai fazer um exame clínico e a roupa que te oferecem, ou não, não corresponde com a necessidade daquele exame, ou ainda você acha que dura mais do que deveria. Um médico vai examinar uma mulher ou fazer um procedimento clínico e demora ou a deixa em posição desconfortável, ou sem roupas, sem que ela veja nisso uma necessidade. É abuso? Não é? Foi necessário? Não foi? Foi alguma coisa que ela fez? Ou disse? E quando há o abuso mesmo, invasivo, como no caso das mulheres atendidas pelo ex-médico Roger Abdelmassih, um dos mais renomados especialistas em reprodução assistida do Brasil, que dopava e abusava das mulheres? Vergonha, incredulidade, pesadelo são alguns dos sentimentos expressados pelas mulheres.

O abuso sexual de crianças e das mulheres de maneira geral é um flagelo social no Brasil e no mundo. Acontece na intimidade das famílias, nos transportes públicos, em ambientes de trabalho e até em igrejas. Fatores culturais, especialmente, são responsáveis pela visão da criança, filha mulher, como propriedade, ou ainda das meninas da família, ou das mulheres de modo geral como objetos que podem ser usados e abusados sem nenhum tipo de respeito.

Como a igreja, e especialmente mulheres em ministério, pastoras, podem ajudar essas mulheres que sofreram abuso? Primeiro, motivar essas mulheres por meio de mensagens, estudos e um ambiente de aceitação a buscarem ajuda. Segundo, criar ferramentas para aconselhamento pastoral, oração, cura, libertação e terapia no objetivo de propiciar uma ajuda interdisciplinar. Mulheres na igreja têm que ter um diferencial no cuidado e encontrar em Jesus, e sob a sua bênção, toda a cura necessária para a sua alma. Em um ambiente cristão muitas vezes tão severo com tudo que diz respeito à feminilidade, é preciso “feminilizar” nossa pastoral e trazer a misericórdia, o amparo e a compreensão com que Deus sempre tratou as mulheres em sua Palavra.
(Pra. Zenilda Reggiani Cintra, publicado em OJB 24junho2012)

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