quarta-feira, 31 de julho de 2013

MULHERES NA MINHA HISTÓRIA

Resolvi dia desses fazer um doce de banana. Não sou muito de inventar na cozinha porque fui de um segmento da minha geração cuja última coisa que gostaríamos de fazer como mulheres era cozinhar. Tive que aprender e desenvolver amor por essa tarefa porque decidi constituir família e entendi que comida tem a ver com demonstração de amor. Existe coisa mais gostosa do que estar reunida com a família ao redor da mesa?

Pois bem, então fui fazer o doce. Descasquei as bananas, cortei-as em pedaços e lembrei que alguém, mãe? avó? tinha me falado que queimar o açúcar e colocar depois a banana deixava o doce com aquela cor bonita e foi o que fiz. Em seguida, lembrei-me que alguma mulher, irmã? tia? tinha me ensinado que doce de banana precisa ter cravos para aprimorar o sabor e, então, coloquei-os. Pensei: qual é o ponto do doce? Lembrei-me que uma amiga? irmã da igreja? deu-me a dica que o doce está bom quando começa a despregar do fundo da panela. E não é que o doce ficou uma delícia! Todos gostaram e logo não havia sobrado mais nada.

Fiquei pensando quantas mulheres influenciaram a minha vida nas mais diversas áreas e me ajudaram a construir a minha identidade feminina, a maneira de portar como mulher, de cuidar de mim e das coisas do dia a dia, de trabalhar no Reino de Deus, de demonstrar amor, de escrever e tantos outros detalhes. Lembrei-me da minha mãe, das irmãs, das avós, das tias, das amigas, das professoras, das mulheres da Bíblia, das minhas companheiras de ministério e jornada cristã e tantas, tantas outras que marcaram e marcam a minha história e me fizeram ser quem sou. Pensei também que todas elas são resultado de outras mulheres que passaram por suas vidas e todas nós juntas somos frutos de muitas gerações. Que herança maravilhosa, que legado precioso que cada uma de nós tem!

É claro que nem tudo sempre é perfeito, mas é tão bom olhar para nós mesmas e gostar daquilo que vemos, do resultado da influência de tantas mulheres que se importaram conosco ou que Deus colocou em nossa genealogia. À medida que amadurecemos em Cristo e em nossa personalidade temos condições de lançar esse olhar de gratidão a Deus por nossa herança feminina, reconhecendo que tudo que aconteceu nos fez as pessoas que somos e nos dá as condições para fazermos diferença no mundo.

A influência que exercemos sobre a vida de outras mulheres, a começar daquelas que estão em nossas casas e famílias, mas também se estendendo às outras com as quais convivemos, é algo que precisa estar bem claro para nós. Trilhar um caminho de generosidade e de solidariedade ao invés de uma estrada solitária ou de competição e indiferença é o que nos dará a liga, o elo com as mulheres ao nosso redor.  Podemos nos ajudar de maneira informal ou na formalidade de um grupo com intencionalidade de crescimento. O fato é que precisamos umas das outras, das orientações, das palavras amigas, do encorajamento, das orações, do companheirismo e alegria que só o caminhar juntas pode nos oferecer. E aí então o resultado será muito saboroso, melhor ainda que o meu doce de banana.
(Pra. Zenilda Reggiani Cintra, publicado em Visão Missionária, UFMBB, 3T13)

VALE ESCURO

Dedico esse texto ao meu cunhado Hélio Soares de Souza e a minha querida amiga Rosa Bianchi

Como batista “de berço”, como alguns se referem hoje às pessoas que nasceram em lares cujos pais já eram batistas, participei de todas as organizações tradicionais de uma igreja, inclusive coros e conjuntos musicais. Acho que consigo ainda cantar muitos hinos dos Coros Sacros, do talentoso Artur Lakschevitz, e de outros autores que fizeram nossa hinódia.
 
Ainda no início da adolescência, já cantava em coros de adultos porque “tinha voz boa”, e nossa igreja era pequena e todos precisavam participar. Dentre as lembranças mais antigas, uma dessas músicas, de autoria de Mina Roch, sempre me vem à memória: "Pelo vale escuro seguirei Jesus/Mas por ti seguro vendo a tua luz/O meu passo incerto Tu dirigirás/Ao sentir-te perto, nunca perco a paz".
 
Ao longo da vida atravessei muitos vales e tenho acompanhado os vales escuros de muitas pessoas amadas. Quando passamos pelos vales das doenças, das perdas irreparáveis, das sombras infernais, das traições inimagináveis, das esperanças frustradas e tantos outros, não conseguimos compreender o porquê, o que realmente está acontecendo e nem as consequências para o futuro. Estar em vales escuros nos traz sentimentos de medo, de fragilidade, de impotência e de insegurança.
 
Quando todas as esperanças foram embora, dois discípulos, muito provavelmente Cleopas e Maria, sua esposa, estavam à caminho de casa em Emaús. Certamente havia uma tristeza profunda em seus corações para a qual talvez faltassem palavras, como acontece conosco, porque atravessavam um vale escuro com a morte de Jesus. Como seriam suas vidas a partir dali? O que fazer com os projetos, os sonhos e as esperanças? Como continuar a viver depois de tudo?
 
E então Jesus veio para estar com eles no vale. Nem sempre reconhecemos quando isso acontece; não conseguimos, por causa da dor, percebê-lo ali.  Mas ele estava lá, andando junto, dialogando, esclarecendo, entrando na casa e sentando ao redor da mesa. Bendita presença! Os discípulos ainda teriam que caminhar muito e passarem por muitos outros vales, mas a consolação da presença de Jesus, daquele “se importar”, estaria sempre com eles.
 
E o hino termina assim: “Breve a noite desce, noite de Emaús,/E meu ser carece de te ver, Jesus!/Companheiro amigo que ao meu lado vens,/Fica ó Deus comigo, infinito bem”.
(Zenilda Reggiani Cintra, publicado em OJB 140713)



segunda-feira, 1 de julho de 2013

LEGITIMIDADE

Salomão não foi convidado para a festa. O rei Davi já era idoso e havia chegado a hora de se pensar na sucessão do reinado e então Adonias, um dos seus filhos, achou que deveria ser ele. Convidou representantes políticos, religiosos e militares e fez o que hoje chamaríamos de um churrasco.

Salomão não foi convidado para a festa, mas acontece que ele era filho de Batseba e mentoreado pelo profeta Natã desde a infância e ambos tinham acesso ao espaço e coração do rei. Depois de saber o que estava acontecendo, Davi resolve cumprir sua promessa de que Salomão seria o seu sucessor. Outra festa se inicia, agora não por causa das iguarias, mas em razão da unção, da consagração do novo rei diante de Deus e do povo.

Do lugar onde Adonias estava ele ouviu o barulho da festa legítima de Salomão e, por isso, os seus convidados fugiram com medo e o deixaram sozinho, não lhe restando opção se não a de pedir clemência a Salomão.

Às vezes não somos convidados para comemorações, as que gostaríamos de ir e também para aquelas pelas quais não temos qualquer interesse. O difícil é quando somos excluídos de lugares onde a nossa presença é a que seria legítima, como era o caso de Salomão. Foi preciso que um homem e uma mulher, em parceria, mudassem o curso dos acontecimentos para que a justiça fosse feita e o reino não fosse tomado pela força.

Há momentos em que é preciso agir com estratégias e lucidez para que a legitimidade prevaleça. Alguns levantam bandeiras querendo coroar tradições, ideias não condizentes com a hermenêutica correta das Escrituras, com a fé que professamos e com a justiça e o amor cristãos. Fazem barulho, envolvem pessoas até bem intencionadas, mas as razões são equivocadas. A exclusão reforça o motivo.

É preciso analisar as comemorações e seus objetivos. É preciso reconhecer quando a unção e a consagração acontecem como resultado do cumprimento da vontade de Deus. É preciso que estejamos nos lugares legítimos cujas pessoas querem agradar a Deus. É preciso que lutem juntos, homens e mulheres, para que os escolhidos e as escolhidas de Deus sejam legitimamente reconhecidos.
Pra Zenilda Reggiani Cintra, publicado em OJB 23jun2013