terça-feira, 28 de setembro de 2010

ESPERANÇA E ELEIÇÕES


Sempre que se aproximam as eleições o coração do brasileiro se enche de esperança. A possibilidade de mudança na gestão pública, dos mais diversos níveis, faz com que se pense que surgirá um caminho novo para se resolver os problemas do país. 

Quando era criança, gostava muito da época eleitoral porque os políticos vinham, montavam um palanque na praça do bairro, discursavam sobre o quanto era importante que fossem eleitos e depois projetavam um filme. Normalmente era muito frio na região onde morava e, encolhidinha, com os pés gelados,  via até o final o tal filme e depois nem me lembrava do nome do candidato, correndo para dormir em minha cama quentinha.  Hoje as leis são outras, mas ainda vemos a maioria dos candidatos apenas na época das eleições e temos a tendência de pensar na vantagem pessoal que teremos com esta ou aquela pessoa.

Candidatos aos cargos eletivos desfilam diante dos nossos olhos com as mais diversas propostas. Por elas podemos deduzir que entre os assuntos que mais tocam o eleitor estão a saúde, a educação, o trabalho, o transporte, a segurança e a moradia.  Vivendo em uma sociedade tão individualista, nós que somos exercitados na Palavra e na convivência da igreja, e incentivados a buscar o bem comum, precisamos ser exemplos ao votar pensando no país de uma forma ampla e considerando quais os melhores caminhos para que todos tenham uma vida digna e desfrutem da cidadania em todas as áreas. Além de orar, é necessária uma postura consciente e que combata alguns mitos:

- A síndrome messiânica – além da nossa formação judaico-cristã, estudiosos acreditam que a colonização portuguesa nos transmitiu a expectativa de que um salvador viria para resolver todos os problemas. Portugal esperava sempre a volta de D. Sebastião, desaparecido em uma das batalhas, e que voltaria para livrar o povo dos maus políticos e de um domínio opressor. Temos a tendência de achar que uma única pessoa seria capaz de resolver todos os problemas e isso não é verdade, em nenhuma esfera de ação. É necessário um esforço conjunto do governo e sociedade e, por isso, a eleição de pessoas preparadas e que dialoguem com os cidadãos é o melhor caminho.

- Política não é lugar para crentes – Nossa herança marginalizada e de minoria nos leva muitas vezes a pensar que não temos que estar envolvidos em política. Se fosse assim, Neemias, Daniel, José, Ester e outros personagens bíblicos não teriam sido os líderes que foram. Isso sem contar parte dos profetas que exerceram influência e papéis políticos e também homens segundo o coração de Deus, como o rei Davi , que foram proeminentes em sua nação. Política é lugar de crente sim, para fazer cumprir os princípios de justiça, honestidade, igualdade e todos os demais valores do Reino. 

- Todo político é corrupto – Temos que reconhecer que existem áreas em que manter a integridade é mais difícil e a política é uma delas. No entanto, não podemos generalizar e nos esquecermos de que Deus tem pessoas separadas para a liderança política, tão necessária para o processo democrático. 

Orar, examinar os candidatos, ter a convicção de que Deus levanta pessoas idôneas, crer e lutar para que os valores do Reino prevaleçam são também nossos deveres como cristãos. E caminhar com esperança, também nas eleições, é sempre um desafio para a nossa fé.

(Pra. Zenilda Reggiani Cintra - Publicado em OJB - 251010)

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

INDEPENDÊNCIA

Ilha de Villegagnon,no Rio de Janeiro,  onde hoje está a Escola Naval. Aqui foi realizado o primeiro culto nas Américas, em 1557

Às margens do rio Ipiranga, o “grito” de D. Pedro, Independência ou Morte, ficou registrado para a história como o momento oficial da Independência do Brasil. Aquele que então iniciava o único império da América Latina atendia ao apelo dos que não queriam a recolonização do país com a volta da realeza para Portugal. Os fatos que culminaram na Independência começam, de uma forma mais decisiva, em 1808 com a vinda da família real portuguesa. De colônia, o Brasil passa a ser metrópole e então a emancipação política tornou-se irreversível.
Desde o início da nossa história, os evangélicos, especialmente protestantes, ficaram à margem da sociedade, da influência política e social e foram sempre retratados como “invasores”, como se os colonizadores não o fossem.  Primeiro, os protestantes chegaram com os franceses e em 10 e março de 1557 foi realizado o primeiro culto no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro. Divergências internas e a expulsão dos franceses, em 1567, acabaram com a tentativa de se estabelecer a primeira igreja e o primeiro trabalho missionário no Brasil e América Latina. 

Em uma segunda oportunidade, os protestantes vieram para o Nordeste com os holandeses a partir de 1630, expandindo igrejas e estabelecendo um trabalho missionário também entre os indígenas. Em 1654 os holandeses também foram expulsos e com eles essa segunda tentativa de estabelecer a igreja evangélica também fracassou.

Mapa do auge da conquista holandesa no Nordeste Brasileiro, tendo
o Rio São Francisco como fronteira Sul e o Maranhão como fronteira Norte
Passaram-se mais de 150 anos até que os protestantes chegassem novamente ao Brasil, agora como empreendedores, depois da vinda de D. João VI  e da  família real. Tendo que abrir a sua economia para outros países e, portanto, para a fé que os estrangeiros traziam com eles, como os ingleses e americanos, um novo capítulo da história dos cristãos evangélicos no país começou a ser escrita.  Vinte e quatro anos depois, a Independência favoreceu ainda mais a evangelização do país, uma vez que o Brasil precisava desenvolver-se e era necessário para isso o investimento dos países protestantes. Já no final do século 19, após a proclamação da República,  os evangélicos foram enriquecidos pela fé que veio com os imigrantes, que espalharam-se especialmente pelas regiões Sul e Sudeste. Tudo isso fez com que chegássemos aos nossos dias quando temos nossa independência religiosa garantida pela Constituição e podemos professar a nossa fé com liberdade.
Deus escreve a sua própria história, dentro da sua soberania. Fascina-me pensar que desde o descobrimento, o olhar do Senhor já estava no Brasil, enviando pessoas que, ainda que rejeitadas, deixaram as sementes de fé, lágrimas e sacrifício entre nós. Também me fascina Deus permitir que ao longo da história os fatos convergissem para que o nome de Jesus pudesse ser proclamado com liberdade. Quem diria que no século XXI haveria tantos evangélicos no Brasil?
Apesar de todas as críticas e desconstruções que muitos sabem fazer tão bem, não podemos negar a bênção que foi a vinda da família real e a Independência do Brasil, com aquele “grito” do príncipe regente, que mesmo ele sem sequer imaginar, abriria definitivamente as portas para o evangelho de Cristo no país.
Pra. Zenilda Reggiani Cintra
(Publicada em OJB, 120910)