terça-feira, 17 de novembro de 2009

BALÃO MÁGICO

Um balão desgovernado voando pelos céus e dentro dele uma criança. Parece uma cena de filme, mas essa história surpreendente aconteceu no Colorado, EUA, e depois de ser amplamente coberta pela mídia se mostrou uma grande trapaça arquitetada pelos pais. O objetivo era se autopromoverem a fim de adquirirem popularidade para um futuro reality show.
Balões de todos os tipos e formas sempre foram meios de se trabalhar o lúdico, tão necessário ao desenvolvimento saudável de uma criança. Certamente, a maioria de nós se lembra do Balão Mágico, aquele programa da década de 1980 que mexia com o imaginário de gente pequena e de gente grande também, propondo um mundo fantástico visto de um balão.
No caso do balão de hélio americano, em forma de disco voador, a história não teve nenhum conteúdo de brincadeira e ingenuidade. O garoto de seis anos foi encontrado em uma caixa no sótão da garagem de sua casa. A mãe admitiu que o balão foi especialmente projetado para o trote, duas semanas antes. Os três filhos foram instruídos pelos pais a mentirem para as autoridades e para a imprensa (Folha, 25out09).
Mesmo em uma sociedade espetacularizada como a nossa, o fato de pais tomarem atitudes tão inconsequentes com os filhos, sem pensarem nos resultados futuros, nos deixa em desconforto. Os fins justificam os meios e a exposição imprópria, para eles, vale pelo objetivo de se tornarem celebridades e, talvez, proporcionarem melhores condições de vida à família. Não é assim que as pessoas justificam, muitas vezes, passarem por situações ridículas, humilhantes ou prostituídas? Não precisamos nos esforçar muito para pensarmos em celebridades, frutos dessa sociedade-espetáculo, que se tornaram pessoas infelizes, solitárias e sofridas. “Há caminho que ao homem parece direito, mas afinal são caminhos de morte” (Provérbios 16.25).
Como povo de Deus, somos chamados a buscar para a nossa vida como pessoas, família e igreja valores muito mais profundos pelos quais valham a pena ousar e empreender grandes projetos. Devemos encontrar em Jesus a suficiência para o sentido de nossa existência a fim de que vençamos o nosso sentimento de nulidade diante de tantos modelos consumistas que são colocados diante dos nossos olhos. Também somos desafiados a passar pelo crivo dos princípios cristãos as propostas com as quais somos confrontados permanentemente.
Em um mundo cujas expectativas são as recompensas imediatas e a projeção pessoal um ideal a ser trabalhado com afinco, precisamos nos lembrar sempre que fomos feitos à imagem e semelhança do Criador, que nos predestinou para sermos para o louvor da sua glória, nos selando para a eternidade com ele mesmo, o seu Espírito (Efésios 1.11-13). Também precisamos olhar para a nossa volta, para as pessoas, não a bordo de um balão mágico, mas através dos olhos de um Deus que “(...) não vê como vê o homem, pois o homem vê o que está diante dos olhos, porém o SENHOR olha para o coração”(I Samuel 16.7).

(Publicado em OJB - 08nov09)

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

TODO MUNDO USA

Na propaganda de uma marca conhecida de sandálias, uma vovó de 84 anos sugere a neta que faça sexo com um ator de TV que acabara de entrar no recinto, dentro de um contexto em que o slogan do produto é Todo Mundo Usa. Após reclamações de telespectadores e o início de um processo pelo Conar – órgão dos publicitários que regulamenta a propaganda – o comercial foi retirado do ar. A atriz octogenária mostrou-se espantada da propaganda ter causado problemas, dizendo que: “As pessoas estão desatualizadas. Sexo está na boca de todo mundo, como bala na boca de criança” (Globo.com, 240909).
Vivemos em uma sociedade em que o consumo, em grande parte, se tornou um fim em si mesmo. Para consumir, as pessoas trabalham demais, compram, e porque compram trabalham ainda mais. É difícil para o ser humano moderno separar o ser, o ter e o trabalho. A identidade muitas vezes é projetada no que a pessoa faz e tem e não no que ela é. O ter confere status e, por conseguinte, valor.
É por essas e outras razões que a propaganda tem uma força tão grande. Por ela somos instigados a sentir necessidades, nem sempre reais, a desejar e a adquirir o que nos é mostrado. Um dos pensamentos presentes em nossa mente como consumidores é: se todo mundo tem por que eu não posso ter? Ou se todo mundo usa porque não vou usar? Daí o grande perigo de associar valores éticos, morais e sociais na propaganda.
Foi o que aconteceu com o comercial das sandálias. Se todo mundo faz sexo sem amor, sem compromisso, a neta poderia fazer isso também, é a dedução lógica. É louvável que muitos tenham se pronunciado contra a mensagem veiculada e o próprio órgão autorregulamentador tenha se posicionado. Agora, o mais preocupante é que a propaganda não cria tendências. Pelo contrário, a partir de pesquisas ela identifica valores em transição, demandas e traz para a mensagem do produto. Por meio da publicidade é possível se fazer uma leitura dos valores de um povo em um determinado tempo histórico.
É lamentável que, como igreja do Senhor Jesus, raramente conseguimos nos enxergar no que é veiculado pela mídia. Não temos um lastro cultural evangélico no Brasil, como alguns países têm. Raramente vemos os valores cristãos evangélicos presentes na arte em suas diversas expressões, a não ser, em certa medida, por meio da música chamada gospel. Portanto, é muito difícil para nós convivermos nessa dualidade do que vemos e sentimos e o que nos esforçamos por praticar e viver como cristãos. Imagine o que acontece com nossos adolescentes e jovens!
O nosso grande desafio, especialmente para os que são referências, como pais, familiares e líderes é por meio das nossas ações, palavras e profissões vivenciadas como ministérios, influenciar com a Palavra de Deus a nossa cultura e as novas gerações. A começar de cada um de nós, precisamos valorizar o ser, alvo do amor de Deus e do sacrifício de Jesus, e sermos exemplos na prática dos princípios que trazem realmente um sentido para a vida.

(Publicada em OJB - 25out09)