domingo, 26 de julho de 2009

TEMPOS DE CONSOLO

Que passagem impressionante essa do encontro de Jesus com uma mulher em profundo sofrimento na cidade de Naim, em Lucas 7. Eu amo o evangelista Lucas porque ele tem um olhar especial para as mulheres que se encontraram com Jesus. Eu amo a Jesus, entre tantos motivos, porque ele deixou que mulheres fossem até ele, como a mulher com hemorragia, Maria Madalena, a mulher encurvada e outras, mas também foi ao encontro de mulheres como a samaritana, a sirofenícia, Marta e Maria e essa viúva de Naim, uma mulher que tinha perdido tudo o que significava família, afeto, segurança e esperança para o futuro.
Jesus chega em caminhos de morte e os transforma em caminhos de vida. Aquela mulher chorava por seu filho morto, acompanhada por uma cidade inteira. Muitas mulheres choram hoje por “cheiros” de morte que rodeiam áreas de suas vidas. Na saúde, por exemplo, diante de prognósticos médicos ou acompanhamentos que são realizados ao longo dos anos; na vida de seus filhos, quanto eles fazem opções inconseqüentes; nos projetos, quando os anos passam ou as condições não favorecem suas concretizações; nos casamentos, quando o “sexto sentido”, ou fatos mesmo, indicam crises; nos ministérios, quando são impedidas de realizá-los plenamente por motivos culturais ou religiosos; na área profissional, frente às crises econômicas e as injustiças sociais e em outras áreas que fazem parte das suas vidas.
Muitas vezes, essa "morte" é acompanhada de dor e humilhação públicas em razão de abandono, vícios, grandes perdas financeiras e rejeição. Na dor que as mulheres experimentam, a família, a igreja, os amigos choram também, sofrem junto, demonstrando compaixão, a única coisa que podem fazer.Mas quando Jesus chega, tudo muda. A possibilidade ou mesmo o fato concreto de perdas, de morte dos sonhos, transformam-se em vida e esperança. Jesus honra aquela mulher com uma família, um futuro e diante de todos que a conhecem porque, como a multidão declara, Deus visitou o seu povo. Ao invés de choro, há temor e adoração. Quando tudo parecia perdido, chegam os tempos de consolo e concretização de milagres e as pessoas percebem que há um Deus, cheio de poder, que veio ao nosso encontro.

Só Jesus conhece, verdadeiramente, as possibilidades de morte ao nosso redor e só ele é capaz de prover caminhos de consolo e de vida. Ele é capaz de ir exatamente no caminho da dor. Só ele é capaz de enxugar as lágrimas de modo consistente e eficaz. Só ele é capaz de dar um futuro e uma esperança.
(Publicado em OJB, 02ago09)

sábado, 18 de julho de 2009

OJB E O SENSO DE PERTENCER

Quando era criança, a igreja que frequentava, dirigida por meu pai Oswaldo, evangelista, ficava em um local de destaque no bairro. Naquele tempo, as igrejas da região tinham os chamados alto-falantes, através dos quais o culto era transmitido. A voz do meu pai ecoava longe. Vez ou outra, algum vizinho mais exaltado incitava a que se jogassem pedras contra o templo enquanto o culto era prestado a Deus. Eu, meus irmãos e as demais crianças nos escondíamos debaixo dos bancos, orientados por nossas mães, até que o ataque cessasse. Recordei-me desse fato quando nossa igreja mudou-se para um templo maior, em outro local, e os novos vizinhos não gostaram da nossa presença. Aconteceu que, por alguns dias, jogaram pedras no telhado durante o culto e então pensei que o evangelho continua o mesmo, mas a resistência a ele também. Tanto naquele tempo, como agora, a perseguição cessou quando a comunidade percebeu a importância da ação da igreja no local. Mas não é nisso que quero me deter.
No passado, em meio àquelas experiências marcantes, sempre havia sobre a mesa da sala da casa dos meus pais O Jornal Batista. Logo que fui alfabetizada, minhas primeiras leituras foram OJB e A Pátria para Cristo e, quando jovem e adulta, Deus me deu a alegria de colaborar com ambos. Lembro que quando lia os textos e olhava as fotos de templos e pessoas de outros lugares, tinha aquele senso de que nas nossas lutas não éramos sós, assim como hoje quando leio o Jornal. Sentia-me parte de um grande povo.
Creio que essa tem sido uma das funções de OJB ao longo de toda a sua história, isto é, trazer esse sentido de pertencer, ou pertença, como querem alguns estudiosos, a todo o povo de Deus chamado batista nesse país continental e para muitos que hoje estão em outros países. Acredito que o jornal tem sido um instrumento para firmar a nossa identidade ao longo das décadas e mostrar-nos que somos um em Cristo.
Hoje, com a bênção de Deus, temos uma denominação com uma membresia muito mais escolarizada, crítica, e líderes e formadores de opinião com as mais diferentes especializações, exigências e necessidades. De igrejas antes rurais, passamos para urbanas, em sua grande maioria, e vamos encontrando um caminho para contextualizar a mensagem imutável do evangelho de Cristo e nossa ação para os novos tempos. E OJB, como um jornal representativo de um povo em transformação, com os mais diferentes matizes e estágios, também tem procurado encontrar esse caminho de relevância em meio aos seus próprios desafios, suas lutas e suas limitações, nem sempre superáveis.
O Jornal Batista ainda fica na mesa, agora da sala da minha casa, e os membros da família podem ter acesso a ele, nas gerações que se sucedem. E todos continuamos nos sentindo parte de um grande povo.

(Publicado em OJB, 19jul09)

domingo, 5 de julho de 2009

ESPERANÇA NAS TEMPESTADES DA VIDA

Em uma dessas fatalidades inexplicáveis, um jovem de 19 anos foi internado em um hospital com suspeita de apendicite e, por causa de complicações na saúde, veio a falecer. A mãe, jovem ainda, é recém-convertida e luta para deixar para trás alguns vícios e libertar-se de pressões familiares e religiosas que querem fazê-la desistir de sua caminhada com Cristo.
A morte do filho foi um choque, como era de se esperar. Toda a igreja, as mulheres de modo especial, se revezam e procuram estar perto para a assistência e consolo, impossíveis sem uma perspectiva de fé.
A história é singular, como todas as histórias de mães e filhos, mas acrescida de um cuidado permanente na área da saúde. O filho nasceu prematuro, com um problema congênito nos pés, o que exigiu cuidados e tratamentos cirúrgico e de fisioterapia por muitos anos.
Durante toda a vida ela teve medo de perdê-lo. Qualquer doença do menino era suficiente para desencadear a síndrome do pânico, mal que a acompanhava desde os 15 anos de idade e do qual ela foi curada. De repente, quando ela começa
realmente a andar com Jesus, Deus leva o seu filho. Como entender?
Um dia desses, ao contrário do que muitos pensariam, ela se indagava: “Senhor, por que me queres tanto assim?”, pergunta extraida de uma música evangélica atual, referindo-se a sua compreensão da insistência de Deus em amá-la e buscá-la incessantemente. Fiquei impressionada porque, talvez, muitos de nós, com anos de fé, atribuiríamos todo o mal da perda do filho a Deus e ela, com tão pouco tempo de convertida, foi capaz de perceber a presença divina de amor no seu sofrimento, ainda que inexplicável.
Em um dos cultos, a mensagem foi a respeito de Jesus socorrendo seus discípulos no mar da Galiléia, em meio à tempestade e aos ventos. Entre outras coisas, falou-se dessa presença maravilhosa na terra, no mar, no barco e seguindo com eles até chegar ao destino final. A travessia não havia terminado, mas agora Jesus estava junto e, certamente, levaria com segurança ao lugar pré-determinado.
Na hora do apelo, ela veio à frente, emocionada, colocando mais uma vez sua vida e esperança de consolo nas mãos de Jesus, reafirmando a sua fé. Sua atitude tocou o meu coração e, certamente, o coração de Deus.
Tempestades da vida. Quem pode evitá-las? Entes queridos que se vão, filhos que sofrem ou decepcionam, casamentos que se desfazem, doenças que nos abatem, relacionamentos que estremecem, sonhos que desmoronam e tantas outras circunstâncias que nos causam dores profundas. Como enfrentá-las? Isso só será possível com Jesus conosco, “todos os dias, até a consumação dos séculos” na terra, no mar, no barco acalmando os ventos e nos levando seguros para o outro lado. E é essa esperança que sustenta a nossa vida.

(Publicado em OJB 050709)